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28.5.2024
Companhia de Teatro Templários enche o Cineteatro Paraíso 

Companhia de Teatro Templários enche o Cineteatro Paraíso 

A Companhia de Teatro Templários voltou a subir ao palco do Cineteatro Paraíso com o espetáculo original 50 ANOS DE LIBERDADE? que levou cerca de 400 espetadores numa viagem no tempo com quase 3 horas.  

Esta celebração dos 50 anos do 25 de abril aconteceu na noite de sexta-feira passada, em pleno mês de maio, reunindo uma equipa com mais de 30 elementos, entre alunos dos 13 aos 20 anos provenientes das várias escolas, ciclos, áreas e cursos do Agrupamento de Escolas Templários e também duas alunas do Agrupamento de Escolas Nuno de Santa Maria, acompanhados pela artista residente, por professores e artistas convidados. Cerca de 80 personagens ocuparam o palco, os bastidores, a plateia e os corredores da sala nobre da nossa cidade com o propósito de lembrar a História e homenagear todos os que resistiram e lutaram para conquistar a Liberdade de que hoje gozamos. E, finalmente, para propor uma reflexão sobre o tempo decorrido desde abril de 1974; sobre o que ainda falta fazer para vivermos em democracia, liberdade, paz e igualdade plenas.  

50 ANOS DE LIBERDADE? é uma criação coletiva desenvolvida ao longo do ano letivo de 2023-24 envolvendo os estudantes de interpretação dramática e instrumentistas (cursos profissionais de música e artes do espetáculo), de professores e técnicos de teatro, português, história, dança e música, da artista residente (medida 3 do PDPSC), artistas convidados e todos os alunos que se vêm juntando à Companhia desde 2019. 

A sua invulgar extensão e a heterogeneidade, tanto do elenco como das linguagens utilizadas, reflete o complexo e atribulado processo de construção técnico-artística que lhe deu origem. Enceta também, e para cada um de nós, um processo de crescimento individual em que as aprendizagens ao nível da história, das artes cénicas, da interpretação, da comunicação e da expressão se foram cruzando com as dificuldades de operacionalização de um projeto ambicioso. Projeto este que implicou o esforço constante de compreensão do outro – daqueles de quem falamos nesta história, daqueles que encarnamos em cena e daqueles que nos foram acompanhando numa aventura criativa que se transformou numa autêntica maratona. Resistir é vencer! 

Tivemos como tripulantes desta viagem Afonso Gonçalves, Afonso Silva, Ana Francisca Santos, Ana Sofia Reis, Beatriz Ribeiro, Bruna Cortes, Carolina Alves, Catarina Santos, Célia Neto, Chandeep Kaur, Daniel Alcobia, Daniela Santos, Guilherme Freitas, Inês Cúrdia, Irina Rafael, Joana Carvalho, João Santos, Joel Nunes, José Lage, Júlia Ceríaco, Júlio Rosa, Liliana Mergulhão, Lúcia Gomes, Maria Inês Alves, Maria Morais, Mariana Carvalho, Miriam Guimarães, Mónica Oliveira, Pedro Chaves, Rodrigo Dias, Sandro Filipe, Sara Henriques e Yasmine Nunes.  

Destacamos, também, todos os companheiros em terra que nos ajudaram antes, durante e depois da viagem: Ivo Fernandes, Clara Marchana, Juliana Barbosa, Laura André, Luana Mota, Luís Fernandes, Rúben Nunes, Shilá Fernandes e Ufolo Guimarães. 

Entidades apoiantes do projeto: Plano Nacional da Artes, Pedime, CIMT, Junta Urbana e Município de Tomar, Centro 20/30. 

  Escrevemos LIBERDADE com um ponto de interrogação porque a Liberdade é um processo sempre em construção, consolidação, aprofundamento e afinação.  

Abril abriu um caminho, abriu mundos ao nosso pequeno e pardacento mundo; abriu-nos os olhos, os ouvidos, os sentidos, a mente e até o coração. Este mundo de possibilidades que então se abriu não foi, porém, vivido nem usado por todos de igual forma – uns não podiam, outros não sabiam. 

Sérgio Godinho escreveu em outubro de 1974: Só há liberdade a sério / Quando houver / A paz, o pão / Habitação, saúde e educação / Só há liberdade a sério quando houver / Liberdade de mudar e decidir / Quando pertencer ao povo o que o povo produzir. 

Ficou consignado na nossa Constituição o direito à paz, ao pão, à habitação, à saúde e à educação. E não queremos voltar atrás nisto. É preciso continuar a fazer cumprir estes valores primeiros. Acreditamos que é preciso, também, continuar a distribuir o que todos produzem, criam, descobrem... Mas, onde está a liberdade de mudar e decidir que completa tais valores fundamentais quando nos sabemos peça inseparável de um sistema massificado e massificador que instigando metodicamente a insegurança, a desconfiança e a insatisfação parece ter como único propósito encaminhar-nos a todos para o grande banquete do consumo e da ganância?  

Como viver em verdadeira liberdade quando nos sentimos combustível e produto de uma realidade que se complexifica e acelera, mas que, e paradoxalmente, se torna cada vez mais formatada? 

Numa sociedade dita “pós-moderna”, continuamos a propagar as velhas ideias de competição, comparação, favoritismo, separação... Temos, a todo o custo, de ser ótimos, excelentes, perfeitos - os melhores, aliás - para, finalmente, só existirmos se a maquinaria publicitária (agora à distância de um clic) assim o vaticinar na rede social da moda.  

Ser livre nestas condições precisa de um ponto de interrogação. 

  Que seja claro, não duvidamos de que vivemos há 50 anos em liberdade e que desde então somos muito mais felizes, até porque temos podido procurar e experimentar aquilo que a cada um faz feliz. Não queremos perder isto, mas apenas lembrar-nos/vos que ainda não estamos lá – a liberdade não é garantida, nem absoluta, nem para sempre.  

Portanto, e como dizia o Casimiro, cuidado com as imitações. 

(Companhia de Teatro Templários, 28 maio 2024) 

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